Afinal, o que é a fome? A fome física e a fome emocional…
Queremos começar por recordar a última questão que deixámos para reflectir: “O que o/a leva a comer?” Não seria de estranhar que a primeira resposta e a mais óbvia fosse: “A fome! Como porque sinto fome!” É verdade! A alimentação está inerente à nossa sobrevivência! Trata-se de uma necessidade biológica básica!
Contudo, conforme pudémos abordar no post anterior, a fome é um dos estímulos que nos leva a comer! Existem outros… pois nem sempre comemos para saciar a fome… às vezes recorremos à comida simplesmente para aliviar sentimentos desagradáveis ou como recompensa, o que designamos de fome emocional ou alimentação/ comer emocional.
Neste caso, o recurso aos alimentos constitui uma estratégia, que escolhemos mais ou menos conscientemente. O problema é que esta solução é apenas um alívio… temporário! Além disso, não só não resolve a questão, isto é, o problema original que está na base das suas preocupações e que o/a levou a procurar conforto na comida, como também fará com que se sinta pior depois. Deste modo, para fazermos decisões adequadas sobre alimentação, a fim de nos podermos libertar de compulsões e comportamentos alimentares excessivos, primeiro é preciso aprender e ter presentes as diferenças entre a fome e outras sensações que se parecem com ela…
Assim, sendo… quais as mensagens do nosso organismo que são indicadores de…
… fome? Experienciamos uma sensação de vazio no estômago que é frequentemente acompanhada de ruídos.
… sede? Experienciamos uma sensação de secura na boca que nos impele a tomar líquido.
… desejo? Queremos comer porque estamos influenciados por outros estímulos (frequentemente ambientais), mesmo que tenhamos comido há pouco tempo.
… desejo incontrolável? Sentimos urgência em comer um tipo específico de alimento, a qual é acompanhada de tensão e uma sensação desagradável na boca, na garganta ou no corpo.
Compreendendo a alimentação emocional…
“Comer reconforta-me quando estou sob stress, acalma-me e distrai-me quando estou zangada e é uma recompensa quando estou feliz. Sinto que não consigo controlar os meus impulsos para comer, não importa o quanto me esforce ou diga para mim mesma que me vou arrepender. A maior parte das vezes em que como em excesso acabo por me sentir mal fisicamente. Já não sei quantas vezes prometi a mim mesma que ía parar, mas volto a fazer tudo outra vez. Os outros parecem que são capazes de lidar com coisas, que eu não consigo sem recorrer à comida. Porquê?”
Soa-lhe familiar?
Episódios de alimentação emocional, são nada mais, nada menos, do que usar a comida para se sentir melhor ou para continuar a se sentir bem. Isto feito uma vez ou outra não gera problemas. O perigo surge quando se torna uma rotina ou um hábito negativo e facilitador do aumento de peso. As associações positivas que fazemos em relação a certos alimentos e o conforto psicológico que obtemos ao consumi-los, vão sendo cada vez mais reforçados no nosso cérebro, ao repetirmos um determinado comportamento alimentar.
Com frequência, necessitamos de quantidades maiores para obtermos o mesmo nível de satisfação, levando a que o comportamento pareça incontrolável. Em termos biológicos isto tem uma explicação; o açúcar e diversos hidratos de carbono são capazes de causar uma boa sensação no cérebro, estimulando o bem estar.
À semelhança do que acontece no cérebro em resposta a certas substâncias que viciam, vamos precisando cada vez mais para obter o mesmo resultado. Assim, quando surge um problema, poderá fugir dele, por exemplo, “mergulhando” em açúcar, sentindo-se bem por alguns momentos, mas mal consigo mesmo/a passado pouco tempo depois, o que conduz a que deixe de aprender a lidar de forma eficaz com as suas emoções negativas, adoptando uma atitude de vítima das circunstâncias, gerando um ciclo vicioso.
Alimentação emocional… esteja alerta se:
– Comer mais quando se encontra sob stress;
– Comer quando não está com fome ou quando já está satisfeito/a;
– Comer para se sentir melhor;
– Utilizar a comida como forma de se recompensar;
– Pensar que a comida é como um/a “melhor amigo/a” ou que ela o/a faz sentir-se reconfortado/a;
– Sentir que não tem controlo em relação à comida.
É verdade que os alimentos reconfortantes ajudam a tornar a vida mais confortável. Não está em questão o privar-se, mas antes a aprender em como ter o alimento e o comer. Neste sentido, a mensagem de esperança é que… nunca é demasiado tarde para formar novas associações em relação a um determinado alimento, podemos reprogramar os nossos alimentos reconfortantes e aprender a gerir melhor as nossas emoções.
Em síntese, seguem-se algumas orientações para ajudar a diferenciar quando tem de alimentar o corpo (fome física) ou tem de satisfazer uma necessidade emocional mais profunda (fome emocional):
Fome física
Aumenta gradualmente
Actua abaixo do pescoço (estômago e ruídos deste)
Aparece algumas horas depois de uma refeição
Desaparece quando estamos saciados
Comer dá-nos uma sensação de satisfação. Não se sente mal consigo mesmo/a
Fome Emocional
Aparece de repente
Actua acima do pescoço (“desejo” por um gelado)
Não está relacionado com o tempo
Persiste mesmo que já tenhamos comido
Comer leva a una sensação de falta de controlo , sentimentos de culpa e vergonha
Na realidade tem fome de quê?
Quer um chocolate ou na verdade quer um abraço?
Procura reconforto na comida?
No próximo post, iremos abordar estratégias para o/a ajudar a superar a fome emocional!
Até lá!